|
demonstrando rancor, ódio, numa inquietação tremenda.
O filho que o acompanhava, demonstrando grande carinho, contou-nos os antecedentes do caso:
- O velho, sempre foi muito forte e trabalhador. Família numerosa, toda criada, vários netos. Sempre foi um bom chefe de família, a tudo se sacrificando em benefício dos seus.
De um ano para cá, começaram a notar certa transformação no seu modo de viver, principalmente no seu trato com a esposa, a quem atribuía faltas inconcebíveis, com acusações e ofensas diárias.
|
A princípio, os filhos e a família se divertiam dos absurdos ciúmes do velho em relação à esposa.
Com o tempo, todavia, já não se divertiam mais. O doente dava mostras visíveis de perturbação mental, raiva e agressividade, precisando ser vigiado continuamente. Recusava a alimentação e passava noites seguidas em claro.
Resolveram sua internação, pois que os recursos procurados tinham sido improfícuos.
Esteve em nosso sanatório três dias, sem dar o mínimo trabalho,
tranquilo, humilde, conversava, falava com carinho da família e fez muitos amigos.
Avisamos a família e o filho veio buscá-lo.
Ele se foi feliz, sorridente, com saudades de casa.
Ao chegar em casa, imediatamente voltaram os sintomas. Ficou desvairado, louco, querendo bater na esposa. Passou o dia e a noite inteira, gritando, enraivecido com a companheira.
Temendo maiores conseqüências, resolveram reinterná-lo.
Em nosso sanatório, nada apresentava de anormal. Dormindo e se alimentando bem, fisionomia alegre, aberta em sorriso de felicidade.
Desequilíbrio mental não era, pois fomos avaliando os diversos sintomas. Atuações de entidades inimigas, conscientes ou não, também não o eram, pois tínhamos certeza de que em nada interferiram para o seu estado. No entanto uma explicação haveria de ter, pois seu procedimento com a família não era natural, as mudanças repentinas de comportamento, requeriam uma ação de nossa parte, ou ficaríamos embaraçados.
Dois meses se passaram sem encontrarmos justificativas para o caso. Condoídos de sua situação, privado de liberdade, longe da família, recorremos ao auxílio de um amigo espiritual, que nos disse:
“(...) assim em existência passada, ficando viúvo, com quatro filhos homens, casou-se novamente com uma moça bem jovem.
(...) certo dia, encontrou a companheira nos braços de um jovem que era seu filho com a primeira esposa.
(...) expulsou a mulher do lar e nunca mais quis saber do filho.
|
(...) certa ocasião, provocado e desmoralizado por sua antiga amante, o rapaz envolveu-se em briga, ficando seriamente ferido. Voltou para a casa do pai que o recebeu e tratou com grande compaixão. No entanto o rapaz não resistiu e veio a falecer.
Com a idade, e o consecutivo enfraquecimento do organismo, o espírito torna-se mais livre, mais liberto; ainda não esquecido das atitudes da esposa, ...revolta-se,... |
Agora, nesta reencarnação, tem por esposa a mesma jovem (...) o rapaz que o traz ao sanatório com tanto amor, é o filho antigo da primeira união,o mesmo que se tornara amante da segunda esposa.
A que fora sua primeira esposa é agora uma de suas noras. Ele tem ainda dois irmãos que também o foram na existência passada.
Durante muitos anos, nesta reencarnação, ele viveu bem com a esposa e a família, porque seu espírito encontrava na matéria sã uma barreira, através da qual não podia manifesta–se totalmente. Enquanto a saúde e o equilíbrio do organismo foram bastante perfeitos para que seu espírito não pudesse exterioriza sua desconfiança, tudo correu bem, procurando ambos o perdão mútuo.
Com a idade, e o consecutivo enfraquecimento do organismo, o espírito torna-se mais livre, mais liberto, ainda não esquecido das atitudes da esposa, naquela existência, revolta-se, conseguindo manifestar seus sentimentos de ódio e de desconfiança; reminiscências da vida passada.”
De posse dessas revelações, mandamos chamar o filho e não ocultamos o nosso parecer, e o do espírito amigo: - seu velho pai não é um louco, é, sim, vítima de si mesmo, um espírito que ainda não consegui perdoar e esquecer fatos passados. Recomendamos que afastasse o casal da convivência, por tampo indeterminado. Morando próximos, mas em casas separadas, com filhos e noras.
Estavam ambos velhos e cansados, mudando de ambiente, recebendo os carinhos e conforto de filhos e netos, encontrariam forças para não sucumbirem.
(...) O filho ficou a recordar pequenas coisas que na época passaram insignificantes: algumas vezes ouvira o pai falar: - “vocês estão muito enganados com essa velha. Ela não presta, não vale nada!” ou – “sua única preocupação é sair pela noite, dançar e namorar.” – Reminiscências do Espírito –
A família aceitou nosso conselho. Os velhinhos foram, cada um para a casa de um filho, onde convivendo com as travessuras dos netinhos, iriam desviando suas lembranças de um passado infeliz, preparando-se para a volta à pátria espiritual. Sempre tivemos notícias suas e nos alegramos que estavam sossegados e contentes.
São tragédias comuns, que destroem lares e confundem a sabedoria dos homens e da ciência. Exames, pesquisas de laboratório e aparelhagem se tornam impotentes, não conseguindo amortecer as dores e extinguir as lágrimas.
Existe uma única terapêutica – a terapêutica do perdão, do amor e do esquecimento -.
Do livro: Psiquiatria em Face da Reencarnação – Dr. Inácio Ferreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário