Memórias – O Evangelho das Recordações (Eliseu Rigonatti)
Destacamos, para nossa reflexão e aprendizado, dois textos: 1) Doutrinação de Vivos e
2) E O Socorro Chegou.
1) Doutrinação de Vivos
“Há na prática do perdão e na prática do bem em geral, além de um efeito moral, um efeito também material. A morte, como se sabe, não nos livra de nossos inimigos. Os Espíritos inimigos perseguem-se com seu ódio, além da sepultura”. ESSE
O homem era um paciente do Hospital; fora internado porque não conseguia dormir; à noite, em sua casa, era um tormento: ninguém tinha sossego. E no Hospital, como em casa, resistia a qualquer sonífero, não dormia. O levamos para a reunião mediúnica. Compareceu um espírito extremamente revoltado] que nos disse: - Não o deixo dormir e jamais deixarei. Quando ele dormia, vinha para o lado de cá e me surrava sem parar; por isso não o deixo dormir; fico, assim, a salvo de suas surras. Conheço-o conheço meu estado de dor e Conheço-o conheço meu estado de dor e sei o que estou fazendo, vocês não sabem de nada.
E retirou-se.
Consultamos nosso diretor espiritual, que nos respondeu: - O caso é mesmo o que ele descreveu, são inimigos e o encarnado, a se ver semi-livre do corpo pelo sono, busca o desencarnado pára agredi-lo. Há necessidade de doutrinar o espírito encarnado. Marque uma reunião entre meia noite e uma hora da madrugada, e traremos os dois para um entendimento.
Autorizados pelo Dr. Orlando, assim o fizemos. O trabalho não foi fácil: o encarnado, conquanto ali em Espírito, não se rendia; ao percebermos que começava a fraquejar, evocamos o outro Espírito, o que apanhava; travou-se entre eles um longo e atribulado diálogo, dos mais interessantes que ouvimos. Intuídos por nosso diretor espiritual, não nos intrometemos, deixamo-los à vontade, permanecendo em oração; discutiram muito, mas acabaram por entender-se.
Nosso internado passou a dormir normalmente.■
2) E o Socorro Chegou
“Não vos aflijais, pois, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos cobriremos? Porque os gentios é que se cansam por estas coisas. Porquanto vosso Pai sabe que tendes necessidade de todas elas.” Jesus (Mt. 6:31 e 32)
Nessa manhã fui para o escritório apreensivo. Na véspera, Sérgio Paulo me telefonara de São Paulo:
- Papai, depois de amanhã é o último dia de pagar a escola; se não pagar o trimestre, não poderei assistir às aulas.
- Fala com fulano ou sicrano, e por esses dias farei o reembolso.
- Já falei, papai, não podem arranjar.
- Fica tranqüilo, não há de faltar.
Sentei-me à escrivaninha e pus-me a pensar em como sair da dificuldade. A quantia, no estado financeiro em que me achava, era grande demais para mim. Não me atrevia a pedir um empréstimo, por pequeno que fosse, a ninguém, pois era novo na cidade, no trabalho; o que diriam de mim? Meus pensamentos tornaram-se pessimistas, sombrios.
E vi, vi com esses olhos que a terra há de comer: materializou-se na soleira da porta um mago negro, um ser das trevas; alto, trajava ampla túnica preta, que lhe cobria inteiramente o corpo; mangas largas, pretas as luvas, o capuz comprido terminado em ponta, cujas bordas lhe caiam pelo peito, ombros e costas, tinha dois buracos para os olhos de um brilho metálico.
Entrou, e apoiou uma das mãos na mesa. E mantivemos o seguinte diálogo mental, depois que me refiz do susto:
- Vida dura, não?
- Que fazer? Não mereço coisa melhor.
- Merece sim; é só você querer.
- Não vejo como.
- Pois pense num ricaço que você conheça; em pouco tempo nossa falange o fará quatro vezes mais rico do que ele.
Creio que sorri à idéia. E, sempre mentalmente, perguntei-lhe:
- E qual o preço? Quanto me custará?
- Quase nada. Abandone o Espiritismo, esqueça-o, não escreva mais livros, e não mais publique os que escreveu; cuide só de negócios, e deixe o resto por nossa conta.
E, mentalizando firmemente, respondi-lhe:
- É um preço muito caro; não o posso pagar.
- Você não sabe o que perdeu – retrucou chispando de ira, e recuando desvaneceu-se.
Três horas mais tarde; um calor de sufocar. Quem entra no escritório com um largo sorriso na face e a testa porejando de suor?
O Faria, sim o Faria em carne e osso – a única pessoa, amigo de infância, que me conhecia na cidade; e dispensando cumprimentos foi logo dizendo:
- Eliseu, rapaz! Acabo de receber um dinheiro que eu tinha emprestado a um conhecido há anos, nem me lembrava mais disso, e ele veio pagar-me. Então pensei: esse camarada usou o dinheiro tanto tempo e não me fez falta; o Eliseu está recomeçando aqui. Todo recomeço é duro; vou levar este dinheiro a ele, para que o use também por uma temporada. ■
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