A jovem, um tanto afoita, adentrou a sala da benevolente diretora, e com voz emocionada, suplicou:
- Meu filho já conta 1 ano, quando devo começar a educá-lo?
- Corra o mais depressa possível a educá-lo, porquanto você já perdeu 21 preciosos meses. Os 12 meses mais os nove que ficou em seu ventre, a educação começa no ventre.
A passagem em questão é atribuída à notável Maria Montessori (1870-1952), primeira mulher italiana a se tornar médica, e sem dúvida uma das maiores educadoras do século passado.
Montessori mostra que a vida não começa quando a criança sai do ventre da mãe. O Espiritismo completa a visão da educadora e ensina que aquele ser pequeno e por hora indefeso que habita o ventre materno, é um espírito em evolução, trazendo uma cultura milenar e uma ânsia por prosseguir em sua trajetória de aprendizado.
Quando a criatura é querida, desejada, esperada pelos pais, quando a mãe e os familiares acariciam o ventre em gesto de afeto, mostrando que aquele ser será bem vindo, estimulado e amado, a educação já começou a ser ministrada. Impossível educar sem amor, impossível transmitir valores sem as ferramentas do afeto!
Interessante ressaltar que Maria Montessori e Kardec – o codificador do Espiritismo - eram dois educadores, duas figuras sintonizadas com a importância da educação na construção de uma sociedade equilibrada. Ambos educavam com amor e por amor. Por isso salientavam a necessidade de uma educação com bases estreitas, iniciada em família, e, após, expandida à sociedade.
Outro ponto importante de Montessori e Kardec: Montessori dizia que é fundamental educar o recém nascido transmitindo-lhe hábitos saudáveis, ensinando a pequena criatura que há a hora de evacuar, dormir, se alimentar. Kardec ensinava que o verdadeiro espírita é aquele que procura coibir suas más inclinações, ou seja, o verdadeiro espírita é aquele que procura ter hábitos saudáveis.
Educação e amor são duas usinas de criação de hábitos saudáveis. E uma sociedade equilibrada, sem desníveis sociais, sem fome e violência, sem corrupção e desrespeito, é feita de cidadãos educados e com hábitos saudáveis.
Hoje em grande parte das famílias a situação se inverteu: pais desconectados com a importância da educação a transferiram para a escola, confundindo educação com informação. Crianças que crescem sem as bases amorosas da família, ou seja, sem hábitos saudáveis, têm mais facilidades de se complicar nas provações existenciais. Lembro de abastada família que relegou toda a educação de seus filhos à escola. A concepção dos pais girava em torno do restrito universo materialista a considerar: “Pago bem, meu filho deve ser bem educado!” Contudo, não obstante ao esforço e capacitação dos professores do renomado colégio, o filho cresceu sem as bases amorosas da família. O pai não lhe fazia um afago, porquanto sempre às voltas com negócios. A mãe também não tinha tempo para o filho, porquanto escrava era das reuniões sociais.
O resultado foi desastroso: um jovem carente que acabou suicidando-se aos 20 anos ao ver o término de seu primeiro namoro. Faltou a esse jovem referências familiares que o despertassem aos valores da espiritualidade. Dialogar com os filhos sobre a vida e morte, mostrar que estamos aqui apenas de passagem, ensinando a transitoriedade de nossa existência terrena, também faz parte da educação que deve ser ministrada às crianças. Conversar sobre essas questões, filosofar em torno dos objetivos da jornada terrena é uma das formas de criar hábitos saudáveis, contudo, como afirma Montessori: fundamental é amar; porquanto a educação que cria hábitos saudáveis e indivíduos melhores se faz com amor, muito amor, desde o ventre materno.
Pensemos nisso
Wellington Balbo
Fonte: O Mensageiro
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