Sempre é Tempo de Figos
Estávamos lendo o livro Comentários Evangélicos de Bezerra de
Menezes, quando nos deparamos com uma passagem pouco abordada pelos confrades
espíritas, a da Figueira e os Frutos ou da Figueira Estéril. Desde já afirmamos
que aquele iluminativo texto de página e meia da obra de Bezerra inspira esse singelo
esforço de escrita que segue. Antes de iniciar, seria interessante observar a
especificidade do Cap. 11 de Marcos, pois é no versículo 13 desse capítulo que
inicia a passagem da “Figueira”. Marcos relata que Jesus foi para Jerusalém
numa marcha extremamente compenetrada, ciente da gravidade do momento... As
palavras de Jesus, no capítulo referido, são contundentes e enfáticas, não que
tenham perdido a doçura, ou estivessem menos acalentadoras como de costume,
não. Mas, a dinâmica do contexto parece ter exigido do Mestre, mais do que
nunca, concentração e foco de sua mente pujante.
Jesus é a expressão máxima da
ação amorosa e reflexiva sobre a Terra. Faz parte de sua estratégia pedagógica
usar figuras de linguagem sob forma de máximas e parábolas. Ao lançar mão
desses recursos, o Mestre não se referia à letra fria, tampouco às expressões
literais, mas pintava na tela da memória coletiva as figuras que guardariam seus
angelicais ensinos para serem analisados à luz da razão em momento oportuno,
como ele mesmo prometeu (João, 14:15
– 17 e 26). Estamos, então, felizes sob a luminosa responsabilidade de orientarmo-nos
pelo esclarecimento da Doutrina Espírita. Nela somos firmes. Sem ela cambaleamos
sem foco e coerência tal como loucos nem sempre diagnosticados pelas
convencionais ciências da psique, porém, muito bem percebido pelo nosso
companheiro Bezerra de Menezes (ver deste,
A Loucura Sob Novo Prisma). Para alertar-nos quanto a isso ensinou o Mestre
“Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim;
Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna” (Mateus 5:37) e “Não
podeis servir a Deus e a Mamom” (Mateus 6:24).
Agora vamos à figueira, ou
melhor, ao homem, melhor ainda, à pessoa espírita cristã. Nada mais conveniente
do que manipular as contingências em favor de nossas mórbidas iniciativas
estacionárias... “Não é tempo de figos”,
dizemos. Equivale a dizer “permita-me antes
enterrar meu pai” (Lc, 9:59), ou então dormir como os apóstolos num momento
de invigilância que não puderam velar com Jesus em seu momento de expressiva
oração (Mt, 26:40). Ou ainda, dizer senhores de si “cumpro todos os preceitos, todos os mandamentos da Lei”(Mc, 10:20), mas não nos dispomos a ir mais fundo
com Jesus na experiência máxima do serviço e da doação do altruísmo e da abnegação,
do amor e da caridade, da luta ininterrupta pelo amaciamento de nossos corações
ainda tão pedregosos, no trabalho pela amenização da dor alheia. Ainda dormimos
o sono intranqüilo de quem afirma que durante o dia não fez mal a ninguém.
Ignorando o que dizem os mensageiros do alto em O Livro dos Espíritos na
questão 642.
As justificativas pululam...
Quase todas têm como base nós mesmos e nossas preocupações individuais. O que é
um paradoxo, pois servir ao mestre é exatamente não se preocupar com a própria
pessoa em primeiro lugar. É ocupar-se com o outro, com o sofrimento e a
dificuldade dos nossos companheiros de caminho. É, numa simples expressão, ser
um instrumento nas mãos do Pai; e num ato de coragem afirmar como Paulo “E vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gálatas, 2:20). Pois não há amor de si, em si, que não seja
egoísmo disfarçado. O amor de si verdadeiro, aquele que funde-se à caridade, segundo
Jesus está, necessariamente, ligado ao amor que emanamos na direção do outro
como o bálsamo sobre a chaga. O que pode ser entendido em “Amar ao próximo como a si mesmo” (Mc, 12:31). Entendamos bem isso. O amor de nós mesmos não é o culto da
personalidade, mas a sobrevalorização do ser eterno; não é atender aos desejos
da hora, às ciladas da sensualidade, ao anseio pelo poder, mas à razão que
induz ao desprendimento do que se tem em função do que se pode dar. Enfim, como
bem disse o pobrezinho de Assis “É dando
que se recebe”.
Por isso esse humilde texto é um convite
de encorajamento aos trabalhadores da última hora, a todos os de boa vontade no
serviço do bem. Sempre é tempo de figos! É sempre tempo de frutificar e dizer
com atos que o espiritismo orienta nossas mentes a dobrarmos nossas más
inclinações. Daremos frutos em todas as horas, em todas as épocas, dia ou
noite, calor ou frio. Pois não há tempo certo para amar o serviço pró-ativo em
função da coletividade. Frutifiquemos! O fruto do espiritismo é a caridade em
“pronto-emprego”. Sob essa perspectiva, as adversidades não só não são
obstáculos como são estímulos ao progresso, à marcha do bem. Sem tempo e lugar
apropriados, pois a hora e o lugar são sempre agora onde estamos.
Alberto Varjão M. Junior
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